terça-feira, 5 de junho de 2007

Uma pedra, João

Mais um João, voltava de qualquer trabalho, todo dia pela mesma estrada, para poder chegar a sua, tão sua casa. E assim era, e vem sido, por muito tempo.
Esta estrada, era mais uma linda estrada, com árvores delimitando seu caminho, e nestas habitavam pássaros livres, belos e frágeis. Observando essas criaturas, João se distraia em seu caminho de volta .A beleza dos pássaros e seus cantos, despertavam secretamente em João o desejo de poder tê-los... lá na sua casa , em uma gaiola, só dele. Ah...- pensava João - os pássaros lhe fariam companhia e assim alegrariam a noite que era tão fria e escura .
João, certa vez, voltando de seu trabalho, pela mesma estrada, para poder chegar a sua, tão sua casa, deparou-se com uma pedra e assim parou para notá-la. Não era tão pequena, mas também não era das enormes, não era valiosa, mas também não era cascalho, não era redondinha, mas também não machucava os pés, era só mais uma pedra. Mas a pedra conseguiu tirar a atenção que João dedicava aos pássaros. João a ouvia, ouvia a pedra dizendo que queria fazer-lhe companhia, que ele a levasse para casa. João por um momento pensou em pegá-la... hesitou, e assim viu que era inútil levá-la. Para que serviria uma pedra? Não era bonita, nem valiosa, e nem tão robusta para que servisse como peso de porta nos dias de ventania. João queria ter em casa era um pássaro, este sim lhe seria útil.
No outro dia, voltando pelo mesmo caminho, deparou-se com a mesma pedra, um pouquinho mais pra frente de onde a tinha encontrado no dia anterior. João sabia que era a mesma, pois ela era a única que falava em seus pensamentos, era a única que o desejava como companhia. E os pássaros continuavam ali.
Passou uma semana, e João a encontrava todo dia, quase no mesmo local, dava atenção a ela, pois ela fazia parte de seu caminho, fazia parte da estrada... mas comparado à admiração que dava aos pássaros esse tempo não era nada. João até percebeu que a Pedra estava mais redondinha, mais polida... mas continuava a ser a pedra que desejava ser levada para casa, a Pedra que não cantava, só falava, não voava, só parada, não brilhava, só amava.
A pedra cada dia mais polida, mais redonda, guardava um segredo... um segredo de pedra: quando passava os cavalos ela aproveitava para polir-se nas ferraduras deles e sedenta esperava cada chuva para desgastá-la um pouco mais e assim a deixar mais notável e desejável. E os pássaros? Continuavam ali. E a Pedra só, amava.
Passou meses, a Pedra todo dia esperava ansiosa por João, que já gostava dela, mas a Pedra era uma pedra!?!
– Ah... os pássaros , se eu pudesse pegá-los....
O tempo passou...
Houve um dia em que a Pedra foi levada por um jovem, não se sabe pra onde o moço a levou, eu só tenho certeza que ela foi feliz. Estava cansada de polir-se para alguém que notava somente os pássaros que voavam alto, não notava os seres que o sustentava em terra firme. Mas naquele dia alguém a desejou, mesmo que fosse para brincar e a arremessar num fundo de rio, para enfeitar algum jardim, ou para quem sabe ser catalogada numa coleção de pedras! A Pedra já redondinha, perfeitamente redonda, era uma Pedra diferente das outras pedras, estava polida pelo tempo, e isso a fazia especial.
João neste dia, quando não a encontrou, assustou-se, seu coração disparou e atordoadamente a procurou no meio das outras pedras e nada achou. Sabia que ela não estava ali, pois se estivesse ele a sentiria. João chorou e tentou convencer-se de que naquele dia estava disposto a levá-la pra sua, tão sua casa.
A Pedra já não faz parte da estrada deste mais um João, mas agora todo dia, ele olha os passarinhos no alto, já alcançáveis, comparados com o que ele deseja: a Pedra do chão.

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