terça-feira, 4 de setembro de 2007

Ela e o buraco.

"Podia ter dito: sim!”
É o que pensava, enquanto
o buraco na rua
faminto, engoliu seu pé.
Talvez seria porque quisesse
que seus olhos enxergassem mais embaixo.
Uma visão que ela nunca tinha tido.
O buraco em natureza de ser


buraco
levou o olhar dela pra baixo sim.
Pro joelho dela, que ralado
Doía.
Era o dela!
Um buraco tímido,
novo talvez,
incomodava pessoas como ela,
que avistam só os grandes buracos.
Gente que olha por cima,
não vê o que o
horizonte camufla.


Tombos.
Ela podia ter dito sim,
ao buraco,
a vista,
a vida.
Mas o joelho dela doía.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Há volta

Cidade de ritmo de fim.
Gritos, discos, latidos, freadas, buzinhas, sirenes, espamentos.
Escapa ventos negros, pretos, cinzentos...
Um cinza colorido por papeis de bala.
Onde o tom é único
Objeto vira cor.
Lugar onde tudo é demais,
Fico parado.
Assim me sinto vivo.
Com a inércia saio da massa.
Destaco.
Louco, doente, insano, chocado, perdido, assustado
Ao susto,
Pessoas vivem.
Fico parado, porque uma formiga
É ser vivo.
Formigueiro é coisa.

Élá

Acordo e percebo
Que do alto de minha vaidade
No armário de minhas compotas
No susto da solidão
Ta lá você!
Como fiz isso em tão pouco tempo?
Se seu lugar era mais embaixo!
Lá, onde guardo a comida do gato.
Quem sabe um dia te encaixo
Em algum lugar de meu peito
Sim, sem mágoa nem despeito.
Quando limpas as fronhas que respiram.

Eu receio o meu gosto,
Por assim te querer bem.
Sadio quero te ver, sem bombas
Asfixiando com ar sua mente.
Eu quero te ver bem,
Mas não nas próximas 72 horas.
Só bem! Na verdade , só ver. Não sei!

Feliz sigo meu caminho de mãos dispostas
Eu as piso para não as machucar
E quem sabe um dia não te encontre lá!
Esperando o ar comprimido das pêras em conserva.

Cometar

Autor: Pietro, Pedro de Sabá

Num piscar de estrelas a cadente irmã se desfaz
E pelo céu inteiro se esvaiRasgando o seu com luz
Porém ninguém sabe que ela arde
Ela corre pra fugir de si mesma
Ela desaparece em seu próprio corpo
E por alguns segundos se destaca das suas
Sim ela brilha mais neste momento
Ela sente mais dor
Ela pode estar morrendo
E a morte de uma estrela irradia
Mais luz que o próprio sol.
Todos os desejos leva em sua calda...
Leva consigo são seus
E em breve de mais ninguém.
Aos poucos ela volta a se sentir nova
E volta a seu próprio princípio
Somente o pó das estrelas.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Equilibrio - por Diogo Cardoso

um santo que não acreditava em Deus disse:

"a chave para o reino dos céusestá em nossos pés"

em coral uníssono - por um instante -
os pés de todo o mundo abandonaram o chão:


a Terra saiu de seu eixo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Movimento Fluxus - Telefonema

Telefonema


Vo cê li gou pa ra a Em pre sa
On de a sua sa tis fa ção é o nos so ob je ti vo.
No mo men to to dos os nos sos a ten den tes
Es tão o cu pa dos, fa vor a guar dar um mo men to
Pa ra ser a ten di do.

Tãnãnãnãããã, tãnãnãnãnãnãnãnãnãnãnãnãnnnnnnn....

Felipe olha esse gato!
Alô? Alô?
Menino, despendura da estante
Felipe, pega o seu irmão
Na estante
Não... o gato!
Alô, Alô?
Que merda de assistência técnica é essa?
Felipe, olha ele!
Não o seu irmão...
Deixa que o Felipe pega o gato menino.
Alô? Alô?
Felipe segura o menino,
Cuidado o gato, ai meu deus!
o som, cuidado, vai cair...

Bip, bip, bip...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Teias do tempo

O tempo é uma aranha
Que pacientemente tece
Rugas em volta dos olhos.
Ele marca a pele
Pra dizer por quanto ele está lá.
O tempo faz de moradia
a face abandonada por gosto,
e costura um manto
de tramas
Para cobrir o que já passou.
O tempo é uma aranha
Que pacientemente tece
Rugas em volta dos olhos.
Ele as gruda na pele
E faz de presa todas as
Lembranças,
Momentos de amor e de infância,
E nas horas de dor,
Ele acalca sua patas
Com mais ânsia,
Deixando ali o mais grosso fio,
O mais fundo risco
Que abriga a causa,
Indigna de esquecimento.
O tempo é uma exigente aranha
E preciosas teias são essas,
Feitas nos vivos, feitos de vida.

Dedico ao meu amigo Diogo que tanto apoio me dá para escrever. Te amo!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Apocalipse

Abri uma carta.
Criou-se um mundo.
Lá dentro
As Letras
Aqueceram um sol,
O chão se fez firme
Brotavam mudas,
mudas
Cantavam água
Nascia, tudo nascia...
Nas cartas respondidas fecundava vida.

tempo

A bola de mundo
Não mais cabia na
Carta
Que retangular,
In
Chi, chi, chi, chi
ADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA


.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Veste felicidade

Essa tal felicidade é roupa que não me cabe
Sempre fica com as mangas curtas,
a gola desajeitada aperta meu pescoço.
Não fecha os botões na altura do peito
Ah... quem disse que tenho que vestir isso?
Felicidade é moda, e moda de gente besta!
E piora é quando temos que vestir a que veio
De algum brechó!

Vc não tem coitadinha?
Então, é usada, tome a minha,
mas praticamente está novinha!

Faça-me o favor!
Não tem caimento!
A trama do tecido é áspera,
E tem cheiro de gasto,
naftalina, traça!
Felicidade dos outros não é a nossa!
E na verdade escondida em armários úmidos,
Não sabemos se é a deles também.
Felicidade não está em vitrine
Nem em cabide pendurada.
Essa tal, eu a recuso, passo frio.
E não desfilo na avenida da vida vestindo-a.
Prefiro ficar nua, em trapos
Que tingiram de tristeza.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Desabafo

Hoje estou fruta de amarrar a boca!
Até o vento me agride,
esbofeteia minhas narinas,
não tenho tempo de respira-lo,
entra... entra... entra...
como soro em veia doente.
Sufoco-me.
Tem dias que acordamos
com alma de vampiros
Hoje o céu está mais claro,
mas não me faz sorrir.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Pimentas

Adoro observar pimentas.
Percebeu como são belas?
Experimenta?
Não, sei que esquenta.
Sua beleza é misteriosa,
Nunca as provei.
Vermelhas, picantes,
Comida do Tal!
Experimenta?
Obrigada, me fazem mal.
Penso que viciam.
As belas pimentas? Experimenta?
Não preciso, sei que queima
O meu estomago vesgo!
Um inferno!
Mas pros meus olhos, refresco.
Cada uma com sua perfeita diferença:
Tortas, envergadas, deitadas de ladinho.
As pimentas, bela experiência.
Experimenta?
Não preciso, como os olhos às provo.
Experimenta observar as belas pimentas.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Fruto de toda estação

Donde viria essa mulher?
Viria da terra, a flor do cacto?
Verdeja sua umidade
e envolve as formas a agudeza
do espinho.
Tal Mandacaru, muitos braços,
fixo à terra ardente.
Mulher de alma agreste
e sonhos vazios.
Olhos rasos, não d'agua
dessa sobrou apenas o sal.
E corre em sua veias fortes
o vermelho da terra.
Seu inverno tem
a pino o Sol.
Ferve tal inferno o paraíso.
No fim da tarde dobram
os sinos, dos chocalhos.
As reses é que entoam
o som de fé e religiosidade.
Como o sino das igrejinhas
anunciam
mais um corpo que se curvou
aos pés,
da maravilha esplêndida
que é a vida sertaneja.

Pedro de Sabá

terça-feira, 3 de julho de 2007

Verbos você

E foi assim, primeiro veio o verbo, e verbos, e verbos...
E afogada neles, escrevi de vermelho seus lábios
Ainda não provados em meu espelho.
E era. Sua mão forte que não fraquejava
Quando entregue ao desejo de posse.
Quantas frases jamais imaginadas usavam-nos
Para se manterem vivas nos
Nossos sonhos cheios de pele.
E foi assim.
Senti o quente, quase picante sangue que dilatavam
As veias de seu pescoço e estas
Dançavam freneticamente
Ao pulsar de minha fria respiração.
Calafrios que nunca existiram.
Acabava que meus olhos cerravam-se em meu corado rosto
Imaculado pelo sal sagrado da vida.
E assim o verbo fez o ato e o resto.
Resto que sobrou de mim.

(Dedico ao meu Pequeno Principe)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Foco é o segredo.

Sei que não sou ninguém pra julgar o próximo, mas tenho que escrever sobre o que vejo por ai. Me sinto quase sufocada se não escrever... e tbém aqui é um lugar todo meu, não estou obrigando ninguém a ler e nem aceitar minhas idéias. Rs.
Mas continuando... Uma das coisas que mais me irrita no semelhante? Pessoas sem objetivo! Não escolhem, não tem alvo e sai por ai atirando para todo lado! E digo isso não só na questão amorosa, a pessoa faz disso sua vida pessoal... faz várias coisas ao mesmo tempo e não termina e nem faz bem nada, nenhuma das suas tarefas.
A maioria parece cega neste mundo abarrotado de informações, pessoas, imagens, vaidades. Não há nada mais lindo do que uma pessoa centrada, ela brilha no meio desta desfocalização de desejos.
É como um prestigiado caçador, ele é considerado bom no que faz quando mira o alvo, um alvo que deseja, uma caça grande, talvez uma onça... sabe o que está fazendo e acerta em cheio e assim leva pra casa o seu troféu, com orgulho... mas imagine outro caçador que pega sua espingarda e sai a atirar desvairadamente, primeiro que a onça vai fugir com certeza, com o primeiro tiro ao léu. Claro que ele vai acertar algo, as chances são grandes porque gastou várias balas. Mas na maioria das vezes será uma presa menor, um coelho no máximo... porque até cervos são mais espertos e rápidos. E será que este cego caçador vai pra casa levando seu coelho com o peito tão estufado quanto o bom atirador? Duvido! Duvido mesmo!
Agora é com você, é só escolher o que vai querer levar pra casa! Pense!

Inreflexões

Quanto que cabe a minha loucura... se é loucura que me faz apaixonar por palavras, somente palavras. Sou tão tola, tão carente assim? Sou sim, e me orgulho por ser humana, não ter vergonha de ser repleta por ilusões, por sonhos e mágica. Mas... que solidão criada me vesti. Fiz de meu cobertor a escuridão do quarto... e lá me esquento de toda frieza deste mundo! Será que somente eu sinto isto? Quantas pessoas se fecham, se trancam e preferem ter como companhia sua própria respiração, que lhe conta como é estar vivo ainda.
Ainda penso que meu erro é pensar demais.
Após eu escrever a um amigo mais ou menos assim " poetas são seres humanos de domínio publico, e que no fim do fim as musas acabam por chorar... " ele me respondeu :
“Poetas, ó triste sonhadores, que quiçá nem musa real as tem, a sua musa é o que permeia a sua palpitante alma, bens de domínio público que com certeza atirariam na fogueira seus mais belos sonetos, quartetos e tercetos pra se esquentar do frio... sua musa é a noite, a música, o anjo, a lua, a infância...sonhar, sonhar...onde estão vós musas... tu és uma musa real! Uma musa de carne e osso que muito tem de poeta-poetisa e sonha também com um “muso”... as musas choram, os poetas choram sangue...as musas são parte dele, ambos sofrem, ambos amam, os poetas as faz existir, as musas os calam dentro do peito e gritam pro mundo inteiro o quanto dói tê-los e não tê-los. Amém. Per saecula saeculorum...”

Lindo o pensamento dele... um pensamento cheio de razões de ser assim.
Que infinita solidão divide nossos mundos, uma solidão optada. Que assim seja!

sábado, 30 de junho de 2007

Não poesias

Hoje, não me faça poesias
Quero mais que palavras
Mais que frases combinadas
Bem mais que falas em rimas
Quero suas crônicas em minha pele
Que viva uma epopéia em meu corpo
Escreva com seus dedos a minha geografia
Quero sentir estribilhos dentre as pernas
Preencha as lacunas dos meus sussurros
Musique o meu gemido e retire
a melodia das minhas curvas
Conte dramas em minha boca
Enumere minha freqüência cardíaca
Descreva os meus poros dilatados
Sublinhe meu corpo com seu cansaço
Disserte pensamentos ao meu ouvido
Faça-me por uma noite ser seu soneto
Grafite em meus pelos o seu amor
E me romanceie em seu suor
E assim então...

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Campanha: Pró- inteligência masculina!

Antes de começar só quero que saibam, estou surtando conscientemente!
Bem, depois de bastante pesar e pensar resolvi organizar uma revolta feminina, uma campanha dizendo: MENINAS NÃO DÊEM!!! Sim, seria uma greve de sexo feita por mulheres solteiras. Tirei a conclusão que os homens precisam se masturbar muito, mas muito mesmo para se tornarem verdadeiros homens. Não estão entendendo, continue lendo e tudo se esclarecerá.
Estou cansada de canalhas na minha e na vida de minhas amigas. Não to dizendo que falta homem no mercado não, pra mim nunca faltou, até eu começar a perceber o que é homem de verdade. Se não fosse triste seria cômico, mas a realidade é que vamos ficando mais velhas e bem mais exigentes. Para você imaginar eu até um tempo atrás achava um despropósito ouvir uma mulher dizer que faltava homem no mercado. Imagina eu, ria com meus olhos verdes, estufava meu par de seios 44 e num belo sorriso chamava a fulana de louca, mal resolvida, mal amada, etc e tal, pois pra mim não faltava telefonemas, convites de rapazes “interessantes”. Bem, hoje vejo que a seqüelada era eu! Os rapazes interessantes só eram interessantes porque eu não saia com eles, não me decepcionava! Hoje eu grito: FALTA HOMEM SIM, HOMEM DE VERDADE! Falta homem que seja mais que um pinto dentro de um carro popular encerado todo sábado de manhã! Falta homem que seja uma boa companhia, que seja inteligente, bom de papo.
Voltando a campanha, MENINAS NÃO DÊEM! Quero justificar este protesto dizendo que nós mulheres não temos homens melhores porque eles sabem que não precisam nos dias de hoje, ser mais do que são para conquistar uma fêmea e satisfazer seu desejo de procriador (eles nem sabem disso, e nem fazem sexo conscientemente para procriar, mas os hormônios que os conduzem tem sim esta função bem definida a milhares de anos). Vamos lá, nós fêmeas modernas, sim, gostamos de dar, de dar bastante, mas de dar bastante a um macho só, mesmo que dure pouco, queremos que dure o suficiente para ter uma estória legal e uma imagem bacana do cara, carinho mesmo pela pessoa! Aposto que 99% das mulheres pensam assim, e só dão esperando que o cara ligue no dia seguinte, para antes de dar tenha uma companhia para jantar, ir ao cinema, beijar, cafuné... Essas coisinhas gostosas de se fazer a dois. Meninas se querem as coisinhas gostosas eu digo, não dêem, pois eles precisam ir embora pelo menos umas boas noites com dor nas benditas bolas, e assim quem sabe, se esforcem para conseguir o que desejam, se esforcem para serem educados, gentis, enfim, conquistadores.
Mas hoje em dia vemos garotos entediados com belas moças, todas são iguais, nenhum desafio, tudo muito fácil... Mulheres acordem! Sim temos a liberdade em nossas mãos, temos direitos iguais aos dos homens, mas, isso não significa que temos que agir como eles, porque está bem claro que o que satisfazem eles nem sempre agrada a nós, ou vocês gostam de passar o domingo de manhã lavando o carro? Ou será que preferem ficar enroladinhas na cama com seu amor? Vamos assumir isto! Vamos deixar de ter vergonha de dizer que somos frágeis e sentimentais, e queremos um sujeito no mínimo educado e provedor ao nosso lado. Imagine que um dia desses uma amiga minha me contou que um cara teve a capacidade de chamá-la de chata só porque ela não queria dar pra ele... Isso me causou uma revolta, este fulano teve sorte de não ter falado isso pra mim, porque senão ele seria facilmente reconhecido na rua, pois teria a marca de meus cinco dedos na face dele até hoje! Já aconteceu de eu expulsar mocinhos de meu carro, sim botar pra fora usando toda a minha educação e paciência porque o cara achava que eu tinha obrigação de dar pra ele... Esses tipos são os mais burros porque nem percebem que se eu estivesse com vontade de dar, daria. Mas eles nem isso conseguiam despertar em mim de tão imaturos e insensíveis! Aff! Totalmente sem noção! Quem sabe esses ficaram um pouquinho mais inteligentes depois de saírem do meu carro direto pro banheiro! KKKKKK
Mais uma vez: MULHERES NÃO DÊEM! Campanha Pró-inteligência masculina. Está agora em nossas mãos! Mas se mesmo assim quiserem dar, pelo menos esteja consciente que na maioria das vezes você é mais um número. Eu sei que ser um número às vezes é bom, mas creio que queremos muito mais que isso!

terça-feira, 12 de junho de 2007

O seu jogo

De blefe em blefe você vai jogando
e acha que eu não percebo.
Quem acha acaba se perdendo e perdendo.
A banca nunca se engana meu amor !!!
Aposta muito alto em você mesmo!
Tolo é achar que te sobram as roupas
Gastou tudo nas suas juras,
e já perdeu até suas cuecas sujas.
Por falar demais meu amor !!!
Dadas as cartas uma vez,
a única coisa que lhe resta é respeitar as regras
mas você insiste em bancar o esperto, ai, ai...
Você já está nu e o que eu vejo não me agrada.
Hoje você já é carta marcada, jogo de azar,
já dizia o poeta e o povinho na mesa do bar.
Meu amor, a banca jamais se engana.
E neste jogo eu sou de copas, a dama .
Na minha mesa não há espaço pra valetes
Ao meu lado quero só rei com ouros, espadas e paus.

(Obrigada pela inspiração)

terça-feira, 5 de junho de 2007

Uma pedra, João

Mais um João, voltava de qualquer trabalho, todo dia pela mesma estrada, para poder chegar a sua, tão sua casa. E assim era, e vem sido, por muito tempo.
Esta estrada, era mais uma linda estrada, com árvores delimitando seu caminho, e nestas habitavam pássaros livres, belos e frágeis. Observando essas criaturas, João se distraia em seu caminho de volta .A beleza dos pássaros e seus cantos, despertavam secretamente em João o desejo de poder tê-los... lá na sua casa , em uma gaiola, só dele. Ah...- pensava João - os pássaros lhe fariam companhia e assim alegrariam a noite que era tão fria e escura .
João, certa vez, voltando de seu trabalho, pela mesma estrada, para poder chegar a sua, tão sua casa, deparou-se com uma pedra e assim parou para notá-la. Não era tão pequena, mas também não era das enormes, não era valiosa, mas também não era cascalho, não era redondinha, mas também não machucava os pés, era só mais uma pedra. Mas a pedra conseguiu tirar a atenção que João dedicava aos pássaros. João a ouvia, ouvia a pedra dizendo que queria fazer-lhe companhia, que ele a levasse para casa. João por um momento pensou em pegá-la... hesitou, e assim viu que era inútil levá-la. Para que serviria uma pedra? Não era bonita, nem valiosa, e nem tão robusta para que servisse como peso de porta nos dias de ventania. João queria ter em casa era um pássaro, este sim lhe seria útil.
No outro dia, voltando pelo mesmo caminho, deparou-se com a mesma pedra, um pouquinho mais pra frente de onde a tinha encontrado no dia anterior. João sabia que era a mesma, pois ela era a única que falava em seus pensamentos, era a única que o desejava como companhia. E os pássaros continuavam ali.
Passou uma semana, e João a encontrava todo dia, quase no mesmo local, dava atenção a ela, pois ela fazia parte de seu caminho, fazia parte da estrada... mas comparado à admiração que dava aos pássaros esse tempo não era nada. João até percebeu que a Pedra estava mais redondinha, mais polida... mas continuava a ser a pedra que desejava ser levada para casa, a Pedra que não cantava, só falava, não voava, só parada, não brilhava, só amava.
A pedra cada dia mais polida, mais redonda, guardava um segredo... um segredo de pedra: quando passava os cavalos ela aproveitava para polir-se nas ferraduras deles e sedenta esperava cada chuva para desgastá-la um pouco mais e assim a deixar mais notável e desejável. E os pássaros? Continuavam ali. E a Pedra só, amava.
Passou meses, a Pedra todo dia esperava ansiosa por João, que já gostava dela, mas a Pedra era uma pedra!?!
– Ah... os pássaros , se eu pudesse pegá-los....
O tempo passou...
Houve um dia em que a Pedra foi levada por um jovem, não se sabe pra onde o moço a levou, eu só tenho certeza que ela foi feliz. Estava cansada de polir-se para alguém que notava somente os pássaros que voavam alto, não notava os seres que o sustentava em terra firme. Mas naquele dia alguém a desejou, mesmo que fosse para brincar e a arremessar num fundo de rio, para enfeitar algum jardim, ou para quem sabe ser catalogada numa coleção de pedras! A Pedra já redondinha, perfeitamente redonda, era uma Pedra diferente das outras pedras, estava polida pelo tempo, e isso a fazia especial.
João neste dia, quando não a encontrou, assustou-se, seu coração disparou e atordoadamente a procurou no meio das outras pedras e nada achou. Sabia que ela não estava ali, pois se estivesse ele a sentiria. João chorou e tentou convencer-se de que naquele dia estava disposto a levá-la pra sua, tão sua casa.
A Pedra já não faz parte da estrada deste mais um João, mas agora todo dia, ele olha os passarinhos no alto, já alcançáveis, comparados com o que ele deseja: a Pedra do chão.

Fases da face

Hoje pela qüinquagésima vez escutei que meu semblante sorri sempre.
Que tenho em meu rosto um estado de sorriso petrificado... Vim me perguntando, o porque deste rasgo convexo em minha face. Será que tiro sarro da vida? Quem sabe, vejo beleza em tudo? Ou apenas sou boba mesmo?
Porém, há possibilidade de meu sorriso ser um buraco feito pra que as lágrimas não transbordem? Tenho câimbras de alegria?
Pode ser que sorrio inconscientemente obrigada, já que há uma cobrança em feliz?
Ainda não sei porque essa lua crescente permanece em meus lábios... Uma lua que tem medo de ser nova e omitir-se,
de ser cheia e berrar,
de ser minguante até desaparecer!

terça-feira, 29 de maio de 2007

Assim só sou...

Escrevo porque sou, sou o que me contam, sou sobras de olhares, sou resto de universos, o pó dos diários não escritos e esquecidos, lágrimas secas da madrugada de chuva, gritos abafados e ditos mal berrados. Vejo-me feita de olás não reciprocos, de amores abortados , paixões eternizadas, pensamentos mal compreendidos , de um excesso de carência minguada e um eterno sorriso. Sou um pouco da sua vizinha, de pinceladas de Tarsila, a rosa da cápsula, de percevejos nas solas dos sapatos , sabores não provados, de sonhos lúcidos e de cílios disputados. Sou feita do que leio, do que vejo, sou o que sugo, o que tenho , o que não tenho e o que queria ser... sou uma gaveta num arquivo secreto e de fácil acesso.